Arte e vida. Binômio que a artista Josane Lobo plasma no calor da encáustica. Seu trabalho é intenso, por vezes corporal como num gesto amplo que encontra nas pequenas manchas de cor os desdobramentos de micro movimentos internos da artista-mulher.

Assim como um Giacometti em relação ao seu atelier, suas obras precisam de um berço, em meio à natureza, que é tanto humana como ambiental. Talvez estas presenças se façam pelo diálogo com suas várias profissões. Bióloga, ambientalista e terapeuta.

Enquanto plasma as obras, Josane Lobo se cura, e cura o mundo com a energia profunda de Eros. A vibração latente de suas obras em princípio nos assusta, mas é com este estranhamento que devemos nos inquietar e transformar nossas percepções passageiras e superficiais.

Há um convite em cada obra para que se salte nessa queda d´água de onde flui nossas emoções, para que se adentre ao portal que conecta o meio ambiente a paisagens primais, de gestação das células, ou das cavidades borbulhantes em que o sangue percorre.

Há um aroma natural de mel temperando as nossas sensações, que retorna ao espaço expositivo com a doçura que envolve e acolhe ao visitante, misturando memórias pessoais da artista à processos que ressignificam a nossa casa mais pessoal e familiar.
Adentra-se por uma pequena floresta, ultrapassa-se as molduras vazadas como a preencher as obras de um vazio necessário para a criação. Há uma luz turquesa que banha as poltronas da história. E dali pode-se apreciar os matizes, as tonalidades, as inúmeras camadas e sobreposições de pigmentos decantados à mão pela artista.

Josane Lobo condensa em sua obra um grito sussurrado. E para percorrer esta exposição é necessário escutá-lo, ouvindo cada um a si próprio a conversar com a artista. Deixando cada visitante os esboços desta infinita conversa tocando neste lugar.

Esther Cervini – Curadora